POEMA FINAL
Se o meu dia vier depois de amanhã,
quero ir vertical no caixão
por mim peçam desculpa ao escrivão
pela maçada da certidão de óbito
Se o meu dia vier depois de amanhã,
quero atrás do meu funeral
venham todos os ciganos,
que tenham como eu, como Pátria o Universo,
mais os poetas verdes carregando estrelas e flores,
as protitutas de infância apunhalada,
os bebados inteiros de álcool
e os mendigos com filosofia nas tripas.
Se o meu dia vier depois de amanhã,
ó infames senhores de fortunas fáceis
ó símbolo de hiprocrisias e de revoltas!
deixo-vos ficar uma corda com espinhos
para estrangulardes vosso cinismo
e este meu último escarro de nôjo...
Se o meu dia vier depois de amanhã,
não quero que toquem os sinos
para não destruírem o sonho das Crianças
nem a melodia do cantar dos pássaros.
Se o meu dia vier depois de amanhã,
quero que os homens das máquinas,
da poesia, do sangue e do suor da terra,
tenham o seu dia
depois de amanhã
igual ao que em vida eu desejei...
Da 2ª edição (revista e aumentada) do livro de poemas
Libertação, 1960
Nasceu 1935 »»»»»» Faleceu 2003
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