O ARCO da Festa de Maio (em honra de NªSª do Rosário)



O Blogue "Vozes de São Julião"

publicou em "Sexta-feira, 13 de Junho de 2008"

Com o título "Os doutores daquele tempo"
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que transcrevemos parcialmente,
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e para ilustrar a descrição,
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tão bem pormenorizada factualmente,
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publicamos uma FOTOGRAFIA dessa época.
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Dr. Bira Milho, o grande arquitecto do arco que era construído para as festas da Senhora do Rosário, no segundo Domingo de Maio de cada ano, em São Julião de Passos.

Qualquer coisa de extraordinário, quer pela sua grandeza, - chegava a superar os trinta metros, quer pelos motivos alusivos à festa, que tanto embelezavam o arco!

Construído a partir de enormes varas de eucalipto, colocadas encima de fortes cavaletes ao lado da estrada, desde a parede do adro até à casa do Sr. Justino, cravadas umas às outras com grandes pregos! Depois de construído, era todo ele coberto com festão, ou seja, com tiras cortadas de papel de seda, de várias cores! Era uma autêntica obra de arte! Permanecia erguido à porta da igreja, em exposição, durante todo o mês de Maio!

Espectáculo digno de ser visto, era assistir ao levantamento do arco! Mobilizava dezenas de pessoas, grandes escadas das vindimas, e enormes cordas, que o ajudavam a levantar gradualmente, com equilíbrio, numa apreciável conjugação de forças. Tudo sob a orientação e comando do “bira milho”.

“Trinta padres e quarenta músicos”, era uma expressão muito usada por ele, para significar um grande aglomerado de gente! “Bira milho”, era um incitamento que queria dizer: siga p’rá frente!

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Sobre este tema, o ARCO da Festa de Maio, transcrevemos o que foi publicado no livro em referência, da autoria de Agostinho Borges Gomes, a páginas 63, 64 e 65:
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O arco era assente no interior da terra por dois pés, cuja estrutura era constituída por duas grossas varas de eucalipto, em cada pé, percorrendo os primeiros patamares, para continuar noutras interiores, até surgir o triângulo que coroava toda a ossatura, encimado por uma cruz. Tudo nas suas proporções estéticas e de segurança. Para se ter uma ideia da sua grandeza, o meu pai descreve-o com um tamanho de mais de 35 metros, dos pés até à ponta da cruz.
Para que a estrutura fosse resistente, as varas que partiam do chão eram cortadas na sua parte posterior mais flexível e substituídas por novas varas resistentes, emendadas às da base, com grandes pregos e arames, com juntas bem aparelhadas e bem assentes, tudo trabalho de carpinteiros, com travessas duplas de tantos em tantos metros e com figuras nestes espaços, desenhadas com varas finas de Austrália, e bem no centro uma coroa de arame, a coroa de Nossa Senhora do Rosário, tudo coberto com papel colorido, tendo as mulheres a preocupação da coroa brilhar com as cores de Nossa Senhora, o azul e o branco.
No Sábado de tarde era um grande acontecimento, o levantamento do arco, já todo coberto e colorido com o dito papel e com figuras abstractas do mesmo papel, como candeeiros pendurados, suspensos na arcada, que se formava a uns metros do chão, por onde passava toda a procissão, ao entrar e ao sair da igreja, cuja curvatura não era tão alta assim, pois os andores maiores, na sua passagem, tinham de ser tirados dos ombros para serem sustentados com as duas mãos, a um metro do chão.
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Era o altifalante que convidada, no Sábado de tarde, todo o povo do sexo masculino, que já possuísse a força física adaptada à manobra difícil do levantamento do arco. Este teria de ser tirado dos cavaletes de suporte e levado a pulso até próximo da porta principal da igreja, a uns três metros para além do local em que ia ficar, devido a uns fios de electricidade que cruzavam a estrada, suportados por um poste de ferro, cravado no cimo da parede de uma casa.
O arco era então levantado, com os pés pousados no adro, através de escadas, de escadotes e de cordas, que se dirigiam ao telhado da igreja. Ultrapassados os fios grossos de cobre, sem protecção de borracha, o que hoje já não acontece, o arco recuava para os buracos, feitos de propósito para os seus pés, com uma voz de comando, a ordenar aos escadotes e escadas, da parte de trás, a avançarem para lugares mais propícios para a nova fase de levantamento, não descurando a responsabilidade dos que se encontravam em lugares mais próximos da base. Quanto à cordas, que partiam de locais onde chegasse a maior escada da freguesia, construída de uma vara de eucalipto que fosse estreita e muito comprida, deviam aliviar a pressão, até os pés estarem com as pontas nos buracos.
A partir daqui era tudo um trabalho de escadas e de escadotes, bem como uma acção das referidas cordas, que dentro em breve seriam elas a responsabilizarem-se por todo o trabalho, entrando agora também em acção umas cordas, preparadas para serem usadas no chão, já que aqui a força era mais consistente. Após o arco na perpendicular, toda a estrutura era equilibrada pelos pés cravados na terra e por arames de cada lado, preparados ainda o arcoi na horizontal. Durante as operações do levantamento, a música do altifalante calava-se para não haver confusões e para maior concentração colectiva.

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